segunda-feira, 4 de maio de 2009




Ainda que não lembre das minhas primeiras experiências com escrita, sei que meu gosto por ler e escrever não se mostrou nos meus primeiros anos escolares. Sempre fui muito preguiçosa e ansiosa, então meu problema não era falta de idéias, elas eram muitas. Meu problema sempre foi colocar tudo no papel, uma idéia atrás da outra, sem atropelar nenhuma e sem deixar a letra feia por preguiça de escrever. O primeiro livro grande que tentei ler foi do Monteiro Lobato, Sítio do Pica-pau amarelo e as dez tarefas de Hércules. Confesso que eu gostava mais de pintar as ilustrações do livro do que de ler. Sentávamos nós três na sala para ler: eu, minha mãe e o Max. Eu fingia que lia e ficava espiando de esgueira por cima do livro, pois o prazo de leitura era uma hora. Quando descobri Harry Potter de JK Rowling, entretanto, meu perfil mudou completamente: virei uma devoradora de livros!
Comecei a ler compulsivamente uns três livros por mês. Nessa época, nos meus doze anos, eu tinha um namorado e ele ficava um pouco chateado por eu passar, às vezes, o final de semana inteiro fixada em um livro e não dar atenção para ele. Com isso, meu interesse por escrever também mudou significantemente. Meu vocabulário havia aumentado e eu conseguia organizar minhas idéias e pensamentos de um jeito que me rendia muitos elogios.
Uma vez, no primeiro ano do ensino médio, uma professora de português pediu mais objetividade na minha redação. Sinceramente, eu gosto de escrever sobre assuntos que eu já tenha uma opinião formada, ou que me inspirem, ou seja, escrever sobre o que eu quiser e não sobre o tema que a professora decidir. Então, quando eu não estava a fim de escrever, eu enrolava. E a professora pediu objetividade. Maldita. Por causa dela, hoje, é muito difícil para mim ser subjetiva. A pessoa diz o tema, eu penso nos pontos que quero escrever e pronto, escrevo. É complicado refletir em cima e escrever sem achar que é fútil para o texto.
Sei que sempre gostei de escrever corretamente, tirar notas botas nas provas de português e escrever sobre pessoas, sentimentos, defender minhas opiniões. O que complica minha vida, ainda hoje, é a preguiça – o que é uma pena.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Lembrança Remota

Já fazia dois anos que eu andava irritantemente ansiosa para aquele momento. Eu conseguia e podia acompanhar meu irmão mais velho, o Max, em tudo o que ele fazia e, sendo assim, agia como se fosse mais velha: brinquei com os amigos dele, aprendi a andar de bicicleta sem-rodinhas na mesma época que ele, brinquei de lutar e de arminhas. Quando ele entrou na escola e eu não pude foi, no mínimo, frustrante. Passei a acordar de manhã sem meu irmão para assistir os desenhos animados matinais que passavam na televisão. Tirando o fato que ele tinha temas para fazer – seja lá o que fosse isso – e eu não! Durante esses dois anos, esforcei-me ao máximo para aprender a ler e escrever em casa, com a ajuda de meu outro irmão, este bem mais velho, o Glauco.

Aquelas férias passaram vagarosamente e qualquer brincadeira parecia enfadonha perto da perspectiva de ir para a escola. Depois de toda a preparação, de comprar materiais, encadernar livros, escrever meu nome em meus objetos pessoais (eu já sabia escrever meu nome!), bordar meu nome na toalhinha e escolher a roupa que eu ia no primeiro dia de aula, chegou o grande dia.
Lembro exatamente como aquela noite foi horrível por causa da ansiedade que me tomava, uma ansiedade que faz parte da minha personalidade e que não me deixou dormir muitas noites em minha vida.

- Tu precisas tentar dormir, minha filha!

- Mãe, eu vou ficar sozinha lá? Por que tu não podes ficar comigo?

E assim eu repetia todas as perguntas que já havia feito muitas vezes.

Minha aula era à tarde. Aquele dia não teve jeito de ficar com sono depois do almoço. Eu já conhecia a escola, de tantas vezes que tinha ido junto com a mãe buscar o Max. A sala da pré-escola A, minha turma, ficava no final de um grande corredor. Era uma bagunça, o pessoal da quinta série me dava medo. Na porta da sala da pré-escola, tinha várias crianças da minha idade chorando desesperadas, mães na porta acenando para os filhos chorosos dentro da sala. Comecei a ficar nervosa, nunca tinha pensado na possibilidade de chorar naquele dia. Minha mãe me levou até o centro da sala, comprimentou a professora Leni e escolheu meu lugar em baixo de um ventilador, no centro.

- Tu estás com medo, Maira?

- Um pouco, agora.

- Tu queres que eu fique aqui contigo?

- Não, mãe. Não precisa.


- Se tu precisar de algo, a mãe do Lucas (meu vizinho chorão) vai ficar ali no corredor, ta bem?

- Ta bem, mãe.

- Quando acabar a aula tu fica sentadinha aqui me esperando, ta bem?

- Sim, mãe.

Quando ela passou pela porta, senti a garganta apertada e os olhos encherem de lágrimas. Nesse momento, um menino loiro que esperneava e gritava copiosamente mordeu a mão da professora, que tentava segura-lo dentro da sala de aula. A mãe ele, calmíssima apontou para mim:

- Olha aquela menina lá, filho! Que exemplo! Nem ta chorando!

Aquilo me acalmou e me encheu de orgulho. Estufei o peito e sorri, quase reabsorvendo as lágrimas.
Lembro com muitos detalhes daquele dia, de como fui até o quadro negro escrever meu nome, de caminhar pela escola fazendo fila de meninos e meninas, de como olhei um outro menino loiro e pensei “Acho que esse aí ta bom pra eu gostar.”
Esse dia me diz muito sobre mim, continuo agindo do mesmo modo em muitas situações na minha vida. Hoje em dia, com um pouco mais de receio que antigamente, quando tudo era motivo para diversão.

terça-feira, 17 de março de 2009

Carta

DOMINGO - CURSO DE REIKI 24/06/07
Hoje é um dia bonito, calmo. Como em todos os cursos que já participei durante minha vida. Cada vez chego mais perto da conclusão de que algo grandioso me aguarda nessa vida, na minha vida. Essas informações, todas elas, estão guiando-me para a luz, para aquela felicidade simples que tenho buscado um tanto ansiosamente. Talvez eu ainda não tenha me dado cont de algo, falta um "clic", falta minha própria certeza. Certeza de mim mesma, por que da vida, ah, eu tenho certeza...
Hoje, depois de vários dias lutando contra a facilidade de simplesmente deixar a tristeza levar, me sinto calma, fora da briga. Agora estou certa da pessoa que sou, da pessoa que aparento ser e da pessoa que quero me tornar: o amor.
Estou distraída, contente, milagrosamente plena. Não tenho mais ilusões sobre a realidade e me sinto muito maravilhada com o mundo que escolhi para mim. Com as pessoas que atraí, com a energia que me sustenta em pé.
Eu sei.
E isso é o suficiente para fazer tudo acontecer.
Eu sei, eu sou, estou, faço. AMO.
Maira Peres
P.S.: Hoje sairei daqui com mais vontade de viver que nunca. Farei tudo acontecer.
----
Impressionante.
Escrevi essa carta para mim mesma, num dia bom, para fazer-me lembrar como a sensação de se sentir bem é maravilhosa. Engraçado é que hoje me sinto de um jeito parecido. Tranqüila, alegre, satisfeita. De um tempo para cá tenho me sentido assim com mais freqüencia. É tão bom conseguir sair da escuridão tão espessa e duradoura em que eu tinha me enfiado nos últimos tempos. O medo de sofrer me consumia, estava machucada demais.
Mas hoje o dia é acolhedor, a vontade de viver é maior que tudo e a chuva me transmite essa vontade.
Tive que lutar muito contra minha vontade de mudar e corrigir essa carta, que escrevi com 16 anos, ortograficamente. Haha É melhor deixar assim, como saiu de mim.
A dança não pode parar!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Frágil

Talvez eu não saiba descrever com precisão o que eu sentia naquele dia. Infelizmente não são sentimentos que ainda carrego comigo. Apesar disso lembro muito bem e sinto os vestígios de uma infância sonhadora junto ao mar - pelo menos nas férias de verão.

Sentimentos não são precisos... Direi, então, que ao olhar o mar, sentia uma espécie de paixão, respeito, fascínio e talvez medo perante aquele gigante imponente que aprendi a gostar desde pequena, quando tudo era grande demais.

Vê que estou sentada na areia ao lado de meu irmão. Sim, aquele é meu irmão. Ele não gostava do mar. Tinha tanto medo que se limitava a brincar apenas no raso. Podes notar que apenas a parte de baixo de sua bermuda está molhada. Enquanto eu adorava ir até depois da arrebentação com meu pai (Vês que estou fazendo pose de sereia? Essa era a intenção, ao menos), meu irmão nunca queria. Mais de uma vez lembro de ver meu pai se abaixar na frente dele, segurar sua mão e perguntar:

- Tu achas que eu te colocaria em alguma situação de perigo? Confia em mim, Max.

Max é o nome dele. Sempre senti inveja por ele ter um nome tão legal, enquanto eu... Bom, continuando. Era só eu ouvir meu pai falando isso que eu inchava de vontade de provar a ele, meu herói, que eu, sim, era corajosa. Que eu confiava nele incondicionalmente. Mas não o Max. Não, ele se recusava e se mantinha impassível. Se houvesse qualquer insistência, ele chorava. Só bem mais tarde o medo dele tornou-se compreensível para mim. Nem mesmo depois do incidente desse dia eu compreendi. Muito nova, eu suponho.

Tinha completado sete anos havia pouco tempo. Passei como melhor aluna da pré-escola e estava disposta a ingressar na primeira série mantendo esse título. Eu era um pouco arrogante. Acredito ter me tornado uma pessoa melhor no decorrer dos anos, depois de muito "quebrar a cara". Enfim, era o primeiro verão que íamos a Santa Catarina. Encantei-me com mar transparente e com as poucas ondas de algumas praias. Vês aquela ilha lá atrás? Adorava contar as quatro ilhas que davam nome à praia. Uma delas parecia que se escondia, tímida.

Essa mulher maravilhosa cuidando de nós é minha mãe. É ela quem respondia todas as minhas incessantes com a maior paciência do mundo. É ela quem fazia incessantes perguntas para o Max, para fazê-lo interagir. Veio a longa viagem de seis horas nos contando sobre a praia, nos mantendo intretidos a maior parte do tempo. Brinca como criança, tem uma voz melódica que povoa meus sonhos e nos criou desse jeito: livres.

Eu, na minha inocência e quase-egoísmo, estava tão encantada com tudo, que não vi nada acontecer. Nem mesmo quando vi minha mãe chorando na beira da praia eu tentei entender. Lembro dela gritando com meu pai e contando para algumas pessoas o que tinha acontecido.

Ela sempre gostou de água, mas acho que não sabia nadar. Provavelmente meu pai disse:

- Não tem perigo, Célia. Até a Maira foi comigo até lá. Vamos, tu vais gostar.

Ele é bem convincente. Ela foi.

Eles estavam lá e meu pai os conduzia cada vez mais para o fundo. As ondas estavam ficando maiores e minha mãe começou a perder o fôlego: mergulhava, nadava, mergulhava, nadava. Não dava mais pé, seu corpo estava se entregando. Sem se dar conta, haviam entrado em um buraco. Entrando em pânico, ela tentava se segurar onde podia: no meu pai. Quando ele finalmente viu que não conseguiria tirá-los dali, gritou para um surfista que estava perto. O surfista rebocou minha mãe, quase inconsciente, para a areia. Meu pai ficou lá procurando o relógio que minha mãe tinha arrancado, no ímpeto de salvar sua vida. Sozinho ele se garante.

Anos mais tarde ela contou-me o que pensava naqueles momentos angustiantes dentro do mar. "Não acredito que minha vida está acabando aqui..." Ela pensava em mim e nos meus irmãos, um deles viajando em outra praia. Sentia uma tristeza profunda por nunca mais poder tocar-nos, beijar-nos, ver-nos, ouvir-nos...

Quando chegou na areia, ficou histérica. Essa é a única parte que eu me lembro realmente. A partir desse dia, sempre que ela tentava entrar no mar, voltavam aquelas lembranças e sensações.

O trauma não é meu, porém, hoje, quando entro no mar, sou extremamente cuidadosa. É preciso respeiteo com ele e, principalmente, respeito à própria vida. Penso que meu irmão sempre teve razão de achar que confiar em nosso pai não era o suficiente. Quando olho essa foto, penso nesse dia que poderia ter mudado todo o curso de minha vida.

"A vida é frágil...", a foto me sussura.

O que ela diz à ti?

segunda-feira, 9 de março de 2009

é só o amor, é só o amor

" (...) e o escuro do quarto pesa sobre minha insensatez"