terça-feira, 12 de março de 2013


Há dois dias, nasceu minha irmã.

Me vejo, então, a refletir, como fazem diversas pessoas quando se deparam com a vida - ou com a morte. Penso que viver como se fossemos durar para sempre é uma defesa do ser humano para conseguir seguir uma vida que nos foi imposta. Essa vida cheia de regras, julgamentos, diretrizes e valores que normalmente não sabemos bem porque existem. Seguimos o caminho que nos dizem que deve ser trilhado sem questionamentos, ou com poucos. É ruim questionar, pois se recebermos uma resposta crua, sem piedade, talvez nunca mais possamos fingir que pertencemos a esses padrões que nos convenceram ser o certo ("certo", nunca gostei dessa palavra). Pego-me questionando, entretanto, face ao nascimento de minha irmã. Aos vinte e dois anos, pela primeira vez, presencio a continuidade da história independente de mim. Quando criança, temos certeza de que somos o centro de de tudo: das atenções e dos acontecimentos. Não é que nada aconteça quando a gente não vê ou não está por perto, é que tudo o que acontece e que não faz parte da nossa vida não tem importância em absoluto. A vida que importa é a que a gente consegue alcançar. E não precisa ser tão criança assim. Na adolescência, apesar de estudar história, geografia e todas as ciências que nos mostram tudo o que foi criado antes de e durante nossa existência, ainda não nos importamos muito. É interessante, como uma bela estória que se lê num livro, mas só existe no distante e paralelo universo que é nossa imaginação e pensamentos.

Mas, há dois dias, nasceu minha irmã. E ela tem os olhos abertos que não se ainda não fixam em nenhuma das formas estranhas de luzes que eles captam. Tem os pés e as unhas compridos. E veste cor-de-rosa. Minha vida já está acontecendo há o que me parece tanto tempo, já fui calejada por meus erros, tenho meus traumas, meu amor, meus medos e coragens, tenho conceitos e dúvidas. Já mudei tanto de ideia. E ela não sabe identificar absolutamente nada do que surge na vida dela. Ela é uma pessoa limpa, só existem os instintos. Em pouco tempo, porém, mergulhá-la-ão em padrões cor-de-rosa. Meu pai vai fazê-la engolir suas verdades incontestáveis e ela vai aprender a identificar o estalo da canela do pai quando ele levanta à noite para pegar um copo da água. 

O que me intriga mais é que me vejo nela. Vejo minha vida florindo junto com a dela, desde que nasci, desde minha primeira lembrança. Vejo as paredes desenhadas, vejo meus irmãos e minha mãe, vejo meu pai, sinto tudo o que senti. Me emociono ao ouvir meu pai dizer "minha filha" e não estar se referindo a mim. E a vida, que vai continuar, mesmo depois de mim. Pergunto-me quanto tempo vai demorar pra Laura, minha irmã, conseguir visualizar o quanto a vida é mágica, o quanto ela oferece ao mesmo tempo que tira. Penso em tudo o que a vida vai me oferecer e depois me tirar, penso em tudo que já perdi. Minha inocência e muitas primeiras vezes.

Penso na Laura, que nasceu rápido, saudável, gritando por leite. E que daqui a pouco a vida não vai ser mais tão simples. Nem pra mim, nem pra ela.

Como se protege uma pessoa nova - porque é isso o que ela é, uma pessoa nova, recém feita - ?

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Recomeço


Não canso de me surpreender com a vida. Em diversos momentos tive uma certeza estúpida de que tudo daria certo e ocorreria da melhor maneira possível para mim, pela simples razão de que queria que assim fosse. Procurei manipular a vida. Ela, entrementes, sempre dava um jeito de me dar um olé. O mais extasiante é que, em grande maioria, essas desviadas de rota me levaram pra um destino inesperado e inebriante. Nunca o mar fez tanto sentido pra mim. Nunca o desconforto inicial de sair do calor da beira da praia para o mar gelado, seguido do prazer imenso que é banhar-se neste, fez tanto sentido pra mim. É impossível não se acomodar, penso eu. Querer sentir-se confortável é algo inerente ao ser humano. Quase uma busca constante. Já o medo da mudança me parece algo incabível. Uma vez que podemos observar os nuances da vida, mesmo que sem profundidade, veremos o quanto nada é constante. Absolutamente nada. Aceitar isso internamente como uma verdade palpável é aprender a viver de uma maneira justa e saudável. O presente é a única realidade. Há tempos buscava doutrinar como as coisas deveriam ser. Hoje sinto que não posso confiar no que eu acho que é melhor pra mim. Deixo a vida me dizer. Hoje eu sou uma pessoa feliz e transbordante, inspirada pelo amor e buscando aproveitar o presente atual e os próximos presentes, pra sempre. "Que a gente nunca desaprenda a recomeçar. Se preciso, todos os dias." Recomeço, hoje, finalmente, a escrever.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Oh, God... Já faz duas semanas que estou aqui.
Hoje, e só hoje, bateu uma saudade de Porto Alegre. Das minhas pessoas queridas e talvez do conforto da minha casa um pouco.
Antes de vir para o acampamento onde estou trabalhando pude conversar com uma menina eslovaca que já estava aqui há uma semana trabalhando em um acampamento e ela me assustou um pouco. Disse que não se sentia bem no acampamento, se sentia sozinha, não sabia falar russo e ninguém a acompanhava em atividade nenhuma, fazendo assim ser praticamente impossível ela criar uma atividade sozinha, pois não podia comunicar-se com as crianças e só sua colega de quarto sabia, de fato, falar inglês.
Naquele dia insisti com a Elena para que não me levasse para um acampamento onde só teria eu de estrangeira, porque eu não sabia falar russo e sentia um pouco de medo em relação a comunicação com outras pessoas. Ela falou que seria inevitável ficar um tempo sozinha e que eu só tinha que ser aberta e criativa.
A minha experiência no acampamento, porém, foi perfeita desde o começo. Fui muito bem recepcionada, tem uma mulher que está aqui somente para me ajudar em qualquer coisa que eu precisar e que fala inglês muito bem. Minha colega de quarto arranha um inglês bem engraçado, mas a gente consegue se comunicar – principalmente porque a gente QUER se comunicar!
Aliás, toda minha recepção em Saratov foi ótima. Um dia antes de ir pro acampamento alguns aiesecers levaram eu e a eslovaca pra passear pelo parque de Saratov, andamos de pedalinho, fizemos turismo e rimos bastante. Pessoal muito divertido e me lembram muito brasileiros (tirando a eslovaca que é uma típica européia e é meio fechada, ainda que muito legal).
A princípio pouquíssimas crianças ou outras pessoas vinham conversar comigo, acredito que todos tinham um pouco de vergonha, receio, não sei... Mas cada dia aparecia alguém novo que arranhava um inglês e me enchia de perguntas. Fiquei bem feliz quando as crianças começaram a chegar mais perto e realmente se sentirem livres pra brincar comigo. Cheguei até a contar um conto de fadas em inglês pras crianças um dia que elas não queriam dormir à tarde. À base de mímicas, inglês, português, russo, sons estranhos... a gente se entende e ri muito!
A única coisa que realmente me incomoda aqui no acampamento é o banheiro... Essa parte é tensa. Quando eu vi aquilo eu não acreditei, me senti voltando pra idade média! E não foi engraçado como quando eu entrei na cabine do trem, foi nojento: os banheiros são salinhas com buracos no chão. BLERGH! Eu não consigo chegar a cinco metros de distancia dos banheiros daqui! Queria tirar uma foto pra mostrar pra galera, mas estou adiando esse momento. Felizmente a Yulia (que é a mulher encarregada de me ajudar) me ofereceu o banheiro dela se eu quisesse um lugar mais reservado e limpo. Bom, o banheiro dela continua sendo uma casinha com um buraco no chão, a diferença é que pouca gente usa e tem uma imitação de vaso, podendo-se, assim, sentar... Que nojo, sério.
Enfim, não quero falar sobre essa parte que me toca. ¬¬

Pra tomar banho eu tenho que marcar hora com certa antecedência. E, às vezes, simplesmente não tem água quente... Conforto no acampamento = zero.
Tirando essa parte sobre higiene, estou adorando estar aqui. Já participei de uma apresentação de dança com mais 5 pessoas em um evento do acampamento e corri revezamento nas olímpiadas inter-acampamentos (perdemos, Hehe). Sexta-feira, depois da minha apresentação, umas 22h, a Elena e a Eva (eslocava) me buscaram aqui no acampamento para irmos para a festa de recepção da aiesec para mim, para a Eva e para mais duas polonesas. Como já era tarde, não tinha mais como pegar ônibus, então, GUESS WHAT?! Pegamos carona no meio da estrada! Bizarro! Eu estava morrendo de medo, óbvio, mas no final correu tudo bem. O cara que nos deu carona nem nos cobrou nada e nos deixou super perto do lugar que tínhamos que ir.
A festa da aiesec foi regada a vodka, caipiroska (by Maira), coquetéis estranhos (by Eva) e muito vinho. Muito, muito, muito legal. Pessoal muito louco, uma mistura muito engraçada de russo, inglês, polonês e português (porque um dos alumnis morou um ano no Brasil e fala português!).
No outro dia de manhã comemos pizza de café da manhã com alguns iogurtes (não faço a menor idéia de como eu ainda não tive algum problema estomacal) e fomos para a praia (leia-se beira do rio Volga). Todo mundo aqui é branquelo de olhos claros, então eu nunca passo despercebida. Quando eu abro a boca pra falar inglês, então... geral fica me olhando meio hipnotizado. No acampamento TODAS as crianças, por onde eu passou, ficam me cumprimentando “Hello!”, “Hi!”... Já me pediram autógrafo, foto autografada, ganho presentinhos e desenhos o tempo todo e sempre tem alguma criança me abraçando ou mexendo no meu cabelo. Na maior parte do tempo isso é muito divertido e engraçado, mas às vezes eu quero me enfiar no quarto e morrer. Hehe
Na praia foi mais ou menos o mesmo alvoroço. Não me pediram autografo nem nada, mas muita gente olhando e apontando e alguns caras até se aventuraram a vir conversar comigo e pedir meu telefone (I feel like a superstar, oh yeah).
Todo dia de noite temos uma discoteca das 8pm até as 11:30pm, e alguns aiesecer normalmente vem ficar comigo durante esse tempo da festa. Ontem especificamente um dos professores de educação física se juntou à nós e trouxe vodka e vinho para a alegria geral da galera. Hoje eu descobri que ele está muito interessado na eslocava. Hehe
Acredito que na próxima semana vai chegar o outro brasileiro que vai morar aqui no mesmo acampamento, daí não serei mais a única estrela! =)
Mais novidades em breve...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

My arrival in Saratov

Ohmygod... I feel too alive to ever die.

Quando as eternas 4 horas esperando o trem pra Saratov finalmente acabaram e eu entrei no trem (depois de atraves de muita mimica pedindo informacoes pra achar o vagao e a cabine certos), eu tive que rir. O trem era tao antigo, tao antigo... eu fiquei parada na porta da cabine olhando pra dentro, rindo e tirando fotos. A cabine tinha quatro camas, tipo dois beliches. Essas camas eram feitas com um tipo de coro vermelho, a janela com uma cortina de rendinhas... Nossa, eu nao consigo descrever. Quando eu conseguir uma maneira de fazer isso, eu coloco as fotos no Picasa. Eu simplesmente me senti voltando no tempo! Ao mesmo tempo fiquei imaginando quanta historia aquele trem tinha, quanta gente ja tinha passado por aquela cabine. Magico, muito magico! Poucos lugares no Brasil proporcionam-me essa sensacao.

De qualquer maneira, eu me sentia exausta. Arrumei minhas coisas, deitei na minha cama, no numero 36, parte de cima do biliche e apaguei. Acordei uns minutos depois com uma familia entrando na cabine a arrumando suas bagagens nas outras camas.

"Privet! Do you speak english?"

"Net. Ruskii, Deutsch"

"Ah... Ok"

Eu tinha tido esperancas que alguem no meu vagao falasse ingles... Apaguei de novo.

Umas 10 horas depois eu acordei, com a cara toda inchada, morrendo de fome, com apenas uma bolacha e uma garrafa de agua na mochila. MIMICA, gente! Essa sim eh a linguagem universal! Atraves de mimica e de um pouco de alemao (que eu arranho) eu consegui conversar, saber nome deles, que eram da alemanha, mas que a mae da mulher era de Saratov. Essa mesma mulher conseguiu comida no bar pra mim e, nao sei porque, mas a guria do bar me trouxe comida na cama. Hahah Muito legal. Comi, dormi de novo... Acordei nervosa. Sera que a Elena tinha visto minhas mensagens? Eu precisava ligaк pra ela.

Meu celular ainda nao estava funcionando, entao tomei folego e fui pedir o celular emprestado para a familia de alemaes. Mostrei meu celular, mostrando que nao funcionava, mostrei o nome da Elena e falei "Saratov! Elena wohnne Saratov"... Hahaha Nem sei se esta certo, mas eles entenderam que ela era de Saratov e ligaram pra mim.

Consegui falar com a Elena, ela estava ja na estacao me esperando e faltava uma hora pra eu chegar ainda. Relaxei... A filha pequena do casal, apesar de nao nos entedermos, ficou brincando comigo ate chegarmos em Saratov.

Quando sai do trem, encontrei as meninas do LC daqui me esperando na porta do meu vagao, super empolgadas. Me abracaram, dizendo que estavam muito nervosas, preocupadas, que eu era uma mulher muito forte, inteligente e corajosa. Nao sei porque, mas toda vez que alguem diz que eu sou muito corajosa de ir pra Russia sozinha eu me sinto meio idiota. Tipo, fazendo alguma estupidez. Mas eu tento ignorar essa sensacao... hehe

Elena me falou que estava tentando ligar pro aeroporto onde desembarquei para saber sobre passagens de trem pra Saratov e eles estavam dizendo que nao tinha mais nenhum, por isso elas ficaram super preocupadas em saber como eu iria me virar em Moscow ate aparecer um trem pra mim. Eu consegui a ultima passagem de trem pro ultimo horario... Isso me da uma sensacao entranha pelo corpo... de que nao eh eu que controlo as coisas que acontecem comigo, mas da uma sensacao de prazer, porque deu tudo certo e eu acredito que sempre vai dar.

Saimos da estacao, fomos comer alguma coisa em um bar porque tinhamos que esperar ate a hora do trem pra ir pra casa da Elena. Tinha um time de futebol de Saratov la e a Elena queria me usar como desculpa pra tirar fotos com eles, mas depois ficou dizendo que meu namorado nao ia gostar e que ela tinha prometido pra ele que iria cuidar de mim. Hahah Esse Caue eh muito malandro, sempre da um jeito de fazer aliados! :)

No trem pra casa da Elena veio um Armeniano (???) puxar conversa comigo, mas como a gente nao se entendia a Elena ficou traduzindo tudo. Ele fazia perguntas demais, isso me encomoda um pouco, me da um pouco de medo tambem. Mas, enfim, respondi, fui sociavel. Haha

Do trem ateh a casa da Elena a gente passou por uma trilha numa floresta, depois por uma estrada de barro num campo, onde tinha varias vacas e animais de fazenda perambulando. Tudo eh bem velho aqui, parece que o tempo parou em algum momento dos anos 90/80. Soh com fotos pra descrever bem.

Ontem de manha acordamos as 9h e o cafe da manha foi carne e batata! Haha Carne de manha... carne de tarde e de noite. Eh meio pesada a coisa aqui, mas sem problemas estomacais por enquanto! :)

Depois disso fomos em dois museus, passeamos pela praca, tirei foto com o Lenin, conversamos sobre socialismo. A Elena falou que as coisas eram melhores antes com a Uniao Sovietica, pois nao entende pra que eles tem o governo no qual nao podem confiar ou pedir ajuda. Ela nao gosta de politica e nao vota porque diz saber que nao faz diferenca. Sonha em conhecer Cuba e adora o Che Guevara.

Ah, os onibus aqui sao muito loucos! O transito, inclisive, eh "very crazy" (segundo a Elena). Tem onibus eletricos que custam 8 rubles e umas especies de vans caindo aos pedacos que sao 10 rubles. Tudo velho caindo aos pedacos.

Depois encontramos o presidente do LC daqui e uns outros aiesecers, buscamos uma trainee Eslovaca no summer camp e voltamos pra cidade. Andamos de pedalinho, caminamos pelo parque, tiramos fotos... tudo muito divertido, pessoal muito receptivo.

Na hora de ir embora, o onibus que levaria a Eva (Eslovaquia) nao estava mais passando e nos duas nao estavamos entendendo como eles iriam resover a situacao. Do nada apareceu um carro preto com umas pessoas dentro, o pessoal do CL deu dinheiro pro motorista, enfiou a Eva no carro e, depois de me lancar um olhar de WTF? eles foram embora.

Ahn... eu fiquei bem impressionada. Eh tipo uma carona, ou um taxi. Quando tu estas parado em uma parada, alguem pode simplesmente parar o carro e te oferecer carona pro lugar onde tu precisa ir, em troca do dinheiro da passagem de onibus. Eu fiquei fazendo varias perguntas do tipo: Mas nao eh perigoso? Como voces sabem que ele eh confiavel? Isso eh normal aqui?

Nao, eles nao acham perigoso e eh normal. Mas, de qualquer maneira, eu pedi pra que nunca fizessem isso comigo. Eles acharam isso bem engracado... mas vou fazer o que?! Eu tenho medo!
Nao da pra confiar em carona no Brasil!

:) Choques culturais divertidos!

sábado, 3 de julho de 2010

My arrival in Moscow


Desculpem o mau portugues, mas o teclado da Elena nao tem os recursos necessarios para que eu possa escrever certo.

Minhas costas doem, amanha eu conto como foi minha chegada em Saratov!


Escrito em 2 de Julho de 2010

Sao 21:44 de Moscow e 14:44 no Brasil, estou na estacao de trem Paveletskaya esperando meu trem para Saratov (que eh as 23:59...)
A viagem ate agora foi bem turbulenta emocionalmente. Na verdade, ate Madrid foi barbada. Comecei a pirar de Madrid para Moscow... Me sinto tao cansada, exausta tanto fisico quando emocionalmente. Ao chegar em Moscow, minha mala foi, pra variar, acho que a ultima a aparecer na esteira. Apos me despedir de um grupo de senhoras brasileiras que me acompanhavam desde Madrid e iriam para San Petersburgo, fui atras da passagem de trem que tinha que comprar. A mulher que vendia falava ingles bem mal e quase me vendeu um ticket errado (como eu iria saber, com esses codigos que eles usam?!), mas por sorte uma mulher que estava atras de mim falava ingles bem, foi super querida e ajudou.

Pronto, comprei o ticket, agora soh faltava avisar a Elena que horas eu iria chegar em Saratov. A mesma mulher querida que me ajudou com o ticket de trem me explicou onde eu comprava um cartao de telefone publico pra ligar, porque o meu celular resolveu nao funcionar. Fui la numa especie de tabacaria dentro do aeroporto e, a base de mimica, comprei. Depois de muitas tentativas frustradas , fui no balcao de informacoes do outro lado do aeroporto, e descobri que tava usando o codigo errado. Fui la ligar, de novo. Elena nao atende, Nicolay nao atende, LC atende e desliga na minha cara. Desespero. Eu tinha que estar fazendo algo errado de novo.

Meu pensamento foi que, entre estar perdida e abandonada em Saratov e Moscow, eu preferia estar em Moscow, onde pelo menos algumas pessoas falavam ingles. Esse tipo de situacao (nao que eu tenha passado por algo parecido antes) me da vontade de chorar, sair correndo, ligar pra minha mae, really freak out. Mas eu realmente nao tenho essa opcao aqui, entao fui pra opcao de fazer dar certo. Fui atras de uma internet, deixei emails e recados desesperados pra Elena e fui embora dali, me arrependendo um minuto depois de nao ter avisado ninguem mais em porto alegre para tentar falar com ela. Bom, definitivamente nao tinha como ficar conectada esperando uma resposta, porque nao sabia quantas horas eu ia demorar pra chegar na estacao de trem na qual me encontro agora. Sai a procura e no final foi bem rapido.

Fui procurando de vagao em vagao algum recepcionista que falasse ingles e logo no terceiro encontrei. Logo depois de mim entrou mais um cara pedindo informacoes em ingles. Fico um pouco mais aliviada de ver outras pessoas na mesma estacao que eu. Mas nao tanto, porque o desespero bateu com o repentino momento de calma e se transformou em varias lagrimas e pensamentos do tipo "wtf eu to fazendo aqui?"... Quando o trem comecou a andar, porem, eu comecei a observar o movimento e me distrai. Nesses 45min de viagem ate o centro de Moscow, apareceu um guri tentando puxar papo, mesmo soh falando russo e italiano, e eu nenhum dos dois. Eh engracado, mas a gente ateh manteve uma conversa de uns 5min, mesmo eu achando que eu nao tava entendendo exatamente o que ele queria dizer e vice-versa.

Enfim, cheguei 4horas antes na estacao, sem ninguem pra conversar. Nos primeiros momentos dei uma volta, depois comprei comida (mimica, ADORO!) e fiquei observando as pessoas. Mas soh eu (e o Caue) sei o quanto o cansaco me deixa pessimista... Ha alguns minutos atras comecei a sentir as sensacoes do meu corpo e reparei que meus pes estao muito inchados e que doem muito. Isso me deu uma vontade imensa de chorar de novo, mas nao to querendo chamar muita atencao. Acho que quando eu entrar no trem pras minhas proximas 16 horas de viagem vou soltar toda essa coisa ruim e ser mais positiva. Vou mandar uma energia pro universo e esperar que a Elena veja meu recado, porque eu sei que se eu chegar la e nao tiver ninguem me esperando... bom, primeiro vou tentar achar uma solucao, depois eu deixo pra me deseperar. =)

Mas enfim, gente, depois que eu dormir eu sei que vou olhar pra tudo isso e rir... agora, porem, meus pes ainda estao inchados, faz mais de 24 horas que estou viajando, dormindo porcamente e ainda recebi orientacoes pra nao dormir no trem pra evitar ser assaltada.

A estacao esta comecando a esvaziar. Perguntei pra uma menina se era perigoso ali onde eu estava ateh a hora do meu trem e ela falou que sim (que bom!! heiuhaiue), entao eu desci e to aqui escondida numas cadeiras.

Tem que dar tudo certo, no final TEM que dar tudo certo. Ateh porque eu nao tenho outra opcao e me recuso a voltar pra casa com o rabo entre as pernas.

Nesse momento nada parece tao maravilhoso que um banho e uma cama (e o cafune do Caue, hoho)

Cliche, mas parece que faz muito tempo que deixei Porto Alegre.

E eu escrevi tudo isso em peh, escorada numa parede, atras de uma copia do AN que a Elena me mandou.


segunda-feira, 14 de junho de 2010

Gogogo tu Russia

Faltam 17 dias (odeio contagem regressiva) para eu embarcar rumo ao provável maior desafio que já tive, até agora, na minha vida.
Cada idade e fase que vivo traz consigo um desafio a ser enfrentado, um desafio que me faz sair da minha estúpida zona de conforto e crescer de um jeito meio doloroso, meio prazeroso. Ainda assim, acredito piamente que os desafios vêm até mim de uma maneira gradual, sempre na medida certa (me senti meio religiosa, lembrando daquele negócio de que Deus só nos manda desafios que podemos enfrentar hahaha).
Não posso negar, sempre quis isso. Sempre quis viajar sozinha, ir embora, me virar. Algo que me deixasse em um estado de alerta o tempo todo, que desafiasse cada parte da minha mente... E agora chegou a hora. Thats it... I feel ready. :)

Ontem foi muito legal encontrar os trainees da AIESEC na tortaria, até porque eles estão passando pela situação que eu vou passar lá na Russia. Mesmo sabendo que é diferente em cada lugar, ver o quanto eles estão integrados e são bem recepcionados me deixa um pouco menos nervosa em relação a tudo isso.

Hoje pretendo comprar minha passagem e o meu seguro saúde internacional, questões mais práticas que eu também estou aprendendo a lidar.

:) So... Hey ho, lets go!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Raise Up

E a vida anda exatamente "nos conformes". Tudo exatamente como deveria ser... Isnt it boring? No, no...not really.
Minha vida sempre foi repleta de repentes e acontecimentos inesperados. Eu sigo um caminho e suddenly... PA! Ele muda completamente. E hoje a vida segue seu rumo de surpresas (nem sempre muito agradáveis).
Vida louca, vidaaa.... vida breve...
Várias oportunidades surgiram nos últimos meses que me permitiram (eu poderia dizer impulsionaram fortemente) a um crescimento pessoal considerável. Aquele papo de que sofrimento faz a gente crescer veio se tornar uma verdade quase incontestável para mim - saindo do pressuposto de que a pessoa que sofre quer realmente crescer com isso e tirar algo de bom dos "perrengues".
Houveram momentos em que me perguntava o que aconteceria se eu desistisse, não fizesse mais força para ficar bem, para ver beleza na vida. Não cheguei a resposta nenhuma. A simples imagem de mim mesma deitada na cama chorando, sem vontade de fazer mais nada, cada movimento (não necessariamente físico) uma dor insuportável não era cogitável a longo prazo. As coisas tinham que melhorar, a vida podia ser boa, dependia só e completamente de mim mesma e da minha força. Esse tipo de pensamento mesclado com uma concentração extrema em viver apenas o momento, reergueram-me.
Quem voltou foi uma Maira diferente da que se deixou cair. Reconheci minha verdadeira essência forte e confiante, preparada pra sentir qualquer tipo de dor, consciente de que há, sim, força para se reerguer. Sempre há.
E nos momentos de dor, de agonia, sempre surgiam feixes de luz... amigos atenciosos, pôres do sol mágicos, caminhadas aliviadoras... Pouco a pouco as cores voltaram a dançar ao meu redor. Viver o presente foi o maior segredo para o meu raising.
Gostaria de poder transmitir essa força e otimismo para as pessoas que convivem comigo e para as que não convivem também. Precisamos guardar bem os momentos de felicidade, as risadas, os carinhos dentro da gente para que em momentos de dificuldade e desespero eles possam brotar como um feixe de luz e possam aquecer o coração de maneira a nos deixar seguros de que everything is gonna be alright.